Estamos anunciando o lançamento do novo disco de Renato Gama intitulado Berlim, gravado ao vivo na cidade de Berlim na Alemanha em Julho de 2019. O disco é o resultado de uma Turnê realizada com Ronaldo Gama e Leo Carvalho formando um Trio chamado Olhos Negro Trio. Depois de Shows em Berlim, Paris, Madrid, Barcelona e Zurique o disco foi gravado nos Estúdios Ark Berlim com a participação especial de Frank Bidin natural da Guiné Bissau e Paulo Cedraz natural de Salvador da Bahia.
Release e Comentário por Almir Rosa.
Já faz muito tempo que eu perdi o hábito de ver fotografias antigas, esse momento é um classico dos anos 80, 90. Aquelas reuniões de família que lá pelo meio da tarde, depois daquele almoço delicioso e cheio de afeto, os álbuns de fotos surgiam em meio ao cheiro do café. Esse rito marcou muita gente, até hoje acontece em muitas famílias. É tão importante pra gente não se desconectar do passado, olhar para o lugar de onde viemos.
E se pudéssemos abrir um álbum de fotos vindas do futuro?
Berlin é um disco que vive o seu próprio tempo, dilatado, anacrônico, coringa, místico, desliza entre pajelanças e suingues que viajam em buracos sem fundo, enquanto vê surgir junto ao por do sol, a impossível face direita das árvores. Um disco, uma fenda mágica que lança luz violeta sobre aquilo que vivemos, torna nossos dias aquecidos pelo calor do afeto e esperança e ainda de forma radiante, espalha sementes douradas pelos jardins do futuro!
Berlin flutua numa encruzilhada enquanto álbuns de fotografias orbitam à sua volta!
Caminho de São benedito
Um disco que começa pedindo bença pra avó, desliza no vento e no tempo feito aroma de café. Segue a pisada do santo pois nesse caminho está escrito a canção que fala do amor. As palavras que são evocadas na abertura de um riual, dizem muito sobre o fenômeno transcendental que surgirá diante de nós.
Anjo Paulo
Se você está numa estrada, pilotando um Maverick e ao seu lado, no banco do passageiro estiver sentado um anjo, isso é um ótimo sinal. Se o balanço que tocar na fita K7 combinar com a risada dele, então boa parte da paisagem estará garantida. Amizade é fruta mordida, é escorrer juntos pelas ruas da cidade, feito os riachos que buscam o mar. É encaixar aquela bola impossível, entre três marcadores e vê-la se aninhar nos pés do parceiro, como se fizessem isso há anos, vidas e mais vidas. Feliz é a pessoa que bebe com seu anjo da guarda.
Manoel Cabinda
O ponto exato em que os caminhos se encontram tem destaque em nosso imaginário, uma encruzilhada foi um termo e situação fortalecida no catálogo das simbologias. Esse lugar de cruza, gerou mistérios, faíscas e promessas. Dentro de nós habitam várias encruzilhadas e quando cruzamos com outras pessoas, uma nova manifestação se faz ainda mais potente e eu aqui fico pensando na voltas que o mundo dá.
Numa encruza da Vila Nhocuné com Berlin, podemos avistar negras e negros, escrevendo suas histórias entre cantos e revoluções, para hoje e sempre, a se libertar.
Domingo
Domingo é o dia da semana que mais seduziu o cancioneiro brazuca, os Originais do Samba disseram que era dia de alegria, o SPC falou que era o dia de encontrar e desabafar e os antigos diziam que era pé de cachimbo. Mas pera lá, cachimbo tem pé?
Daí a importância do imaginário, de ver a fumaça subindo por detrás do matagal, se misturando entre os pipas no céu, de uma zona leste tão xamânica, quanto populosa.
Nesses fins de tarde, desse dia que se mistura entre o último e o primeiro da semana, vimos parentes e amigos reunidos, festejando no buraco mais fundo, comendo, bebendo e cantando, mundos que acabam e começam, entre um balanço e outro..
Mau Jeito
Coahb 2, Zona Leste, São Paulo, Brasil, duas horas da tarde, enquanto o mundo ferve lá fora, alguém se protege em seu quarto, 2 x 2. Um edredon azul escuro pendurado na janela, tenta rebater as rajadas solares, carregadas de cobranças. Uma caderneta manchada de café, repousa sob a mesa, aborratda de contas e versos.
Nas tardes frias de outono, o edredon sai da janela rumo ao sofá de dois lugares e então o sol atravessa o vaso de cataventos e projeta sua sombra na parede.
Um rastro de perfume que se impoe ao azul escuro do edredon, foi flagrado embarcando no terminal Aricanduva, sonhando poemas e espalhando amoras com olhos.
Amigo João
João dizia que conheceu o jazz observando como sua casa funcionava, as várias pessoas naquele pequeno espaço, cruzando passos, sonhos e tarefas, o teclado do computador funciona frenético, panela de pressão chiando, criança chorando, criança correndo, telefone tocando, batem palma no portão, vende-se pano de prato, mensagens brotam na tela do celular e entre a geladeira e o sofá, numa das mãos uma gelada, e na outra, conta os dias para o resultado de um projeto, ah, precisa dar um salve no Dizão pois pintou uma viagem. Quando João ouviu jazz pela primeira vez ele já se conheciam.